segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Espelho

Você sempre briga, mas acaba acatando as críticas e cresce com elas, então pronto, vou falar.
Se tem uma palavra que te descreve é a “ambigüidade”. Você é dupla, e isso é uma característica que assusta muita gente que não sabe lidar com isso. você não apresenta características tão distintas, tão certinhas que qualquer um percebe logo de cara. Na verdade você é o tudo e o contrário de tudo. É lado e avesso. É contraditória.  Fareja de longe as suas possíveis desilusões. Tem uma intuição tão especial para perceber o perigo de uma desilusão que você acaba não vivendo o que tem que ser vivido, daí fica tudo pelo meio do caminho, inacabado, mesmo assim é sensível, talvez umas das pessoas mais sensíveis que eu já conheci. Além disso, você passeia como ninguém entre os vícios e as virtudes, entre o bem e o mal, entre o inferno e o paraíso e sai ilesa, ou chora um tempo e depois se recupera. Você é camaleônica! Consegue se adaptar a qualquer ambiente e a qualquer situação com uma rapidez e uma facilidade surpreendentes e isso não é ruim, talvez sofra menos assim.
Você tem outras características. É inteligente e curiosa, tem disponibilidade para todo tipo de experiência nova, compreende tudo com facilidade, é empática com as pessoas, mas é superficial em outras. Às vezes parece estar fora da realidade, viaja muito nos seus planos, é muito racional às vezes e isso me assusta. Não leve a vida como um jogo, apesar de você saber jogá-lo muito bem. Talvez seu ponto fraco seja quando as pessoas duvidam da sua capacidade de pensar. Quando elas desdenham de você e já vi você sofrer muito por isso que te deixa exausta psicologicamente falando. Você fica esgotada!
Quando você tá feliz com você mesma e sua auto-imagem, você é a pessoa mais linda desse mundo, dá gosto ver seu sorriso, sua leveza, mas quando não está precisa de elogios todo o tempo. Você fica insegura e insuportável. Já te falei pra não se preocupar com isso, você é linda e não deixe ninguém dizer o contrário. Você é intensa! Tem um monte de qualidades que se as pessoas não veem é porque são idiotas. Você é livre, mas  é fiel e leal aos amigos e aos seus amores e isso não é pra qualquer um, quem conseguir  te manter apaixonada é um gênio e espero sinceramente que encontre essa pessoa. Mas não estraga tudo quando ficar insegura e achar que tem que acabar com tudo antes que se apaixone.

Ana

Exposição

Mais uma vez vou ter que expor. Mais uma vez terei que ser julgada e como na maioria das vezes condenadas. Mas eu sei que tenho que fazer isso. É necessário. Não aguento mais ser taxada de inconsequente, irresponsável e louca. Espero compreensão, será que terei? É a última tentativa.

Meu mundo equilibrista

Eu vejo o mundo como paralelos. Tem o paralelo familiar, o paralelo profissional, o paralelo neutro, o paralelo mundial, o paralelo do lazer, o paralelo dos amigos, o paralelo sexual, o paralelo sentimental, o paralelo dos acontecimentos. Eles muitas vezes transitam entre um e outro, mas todos com uma imensa necessidade de se manter equilibrado. Muitas vezes é melhor que esses mundos não se cruzarem ou acontece o caos.
Outras vezes parece que não vivemos em nenhum deles, é o que eu chamo de paralelo neutro, assim como o 38 das Coreias. Aquele que você não pode carregar armas, sai de órbita e pouca coisa que acontece nele faz diferença nos demais. Ultimamente tenho querido estar nesse. Ficar em descanso, nem perto mesmo das pessoas que amo ou me fazem bem. Queria estar estática, apenas comigo mesma.
As coisas andam tensas por aqui. Estou prevendo uma guerra-pessoal-mundial, e que ela venha logo. Só depois da guerra é que as coisas mudam e se for necessária, que venha logo e eu saiba como lutar.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cansada desse mundo maniqueísta

Esses dias que me vejo meio estranha, entendo bem o que as pessoas pensam: ou se é do bem, ou se é do mal. Então, se eu sou do mal, vc é do bem, certo? Odeio pensamentos medíocres....

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ah se eu tivesse um...


Todo mundo que me conhece sabe que eu não vou ter filhos. Mas ninguém entende que não é egoísmo. Acho que o mundo é cruel demais pra cuidar dele por mim. Não vou entrar em detalhes, não é meu objetivo. Mas seu um dia eu tivesse, ele ia escutar rock'n roll (e se aparecer um pai por aí que que cante no chuveiro com ele, pode se candidatar! Rsrsrs), ia saltar de paraquédas comigo, andar de skate e patins, surfar em Teahupoo, viajar pelo mundo, aprender cedo o significado de respeito, usar as roupas que ele quisesse, cantar e dançar ridiculamente sem que ninguém encha o saco, brincar até cansar, saber a hora de parar... Ah, se eu tivesse um acho que seria assim...

P.S.: esse texto foi escrito há muito tempo. Muitas coisas aconteceram depois, mesmo assim, resolvi publicá-lo.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Blue pill is the power

Como o meu colaborador-mor não deixa espaço para comentário, vou ter que comentar o post abaixo em forma de post mesmo! Muita gente me reclamou falando que não entendeu nada, nem é pra entender, é o estranho mundo de Vanderbrognem, mas um dia esclareço tudo. Por enquanto, vamos ao comment!
Incrível como os homens são fáceis de de manipular.  É só dar um um pílula azul que eles se acham mesmo os donos dopoder.
Fico imaginando Hobbes dissertando sobre. Ah! E  eu não falei mal do Hoobbes, ao contrário, falei que o cara é foda, pq o que ele disse ainda tá valendo.
E o Mendes.... um paulistano filhinho de papai num lugar tão... tão... civilizado! Hobbes também diria que ali, os homens teriam as mais puras e genuínas raízes. E vc gostou, fala sério Mendes! Só não pulou pra cima da mina por causa do seu ético e familiar contrato social. Os caras só partiram pra brigam pq quebraram o tal contrato, ou seja, são mais livres que vc.
Ah, e como corinthianos não vão conseguir comandar nada! Mas até que conduzir essa massa alvi negra falida para os campos de gás não seria má ideia, hein! O que vocês precisam pra comandar essa cambada? Blue pill? kkkk
 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Esse mundo tá perdido!

Poder e vaidade

Estar no poder dá um sentido interiormente diferente às
 suas paixões, aos seus desígnios, à sua estupidez mesmo - LACAN

Às vezes, ensinar nos coloca em situações complicadas...
Como explicar à um garoto de 14 anos o que é poder? Começo assim:
- Aprenda uma coisa, F.: Tudo nessa vida é por interesse! (Que a mãe dele não me ouça dizer isso!)

A aula remetia ao Estado Novo  (1937). Pior que explicar poder e vaidade era explicar poder e vaidade na política a esse mesmo aluno que um dia me disse que já cresce com a ideia de que política é tudo "balela, tudo mentira".

Daí lembrei de Hobbes, que lá no século XVI/XVII dizia que o homem, em seu estado natural, é egoísta, egocêntrico e inseguro, por isso tudo o que ele produz é pobre, sórdido, brutal, solitário. Que todos seríamos lobos, mas que através de um contrato social convivemos uns com os outros e que para isso seria necessário um soberano que puna. Isso, é lógico, levando-se em conta que a base do poder está na necessidade de se exercer um controle da natureza humana, neutralizando a liberdade de cada um e a tornando uma liberdade vigiada sustentada na segurança que esse soberano o daria  em troca a segurança, já que o o ser humano é o único animal que tem a noção da morte. (Medíocre isso, né?!)



O que me chama a atenção é que quando se trata de poder, a humanidade não teve muito progresso no processo civilizatório. O poder ainda envolve muitos sentimentos, sociedades inteiras e continua sendo o principal instrumento de coesão das relações sociais. Chega a ser assustador pensar que o mesmo poder citado por Hobbes ainda é praticado pelos homens modernos.
Mas voltando ao aluno, pensei que ele não iria assimilar tudo isso, então, como eu colocaria naquela cabecinha que Getúlio Vargas era um homem poderoso?  
Pensei nas suas relações adolescentes e supus:
- Imagine que você tá afim de uma menina da escola, daí ela, todos os dias, passa por você jogando charme, mas sempre te ignora. Só que isso faz com que cada vez mais você se apaixone. Então ela exerce um poder sobre você, certo?
- Sim, mas daí eu não vou ficar na dela, finjo que não tô nem aí!
- Então, ela mexe com a sua vaidade. Mas você está apaixonado, se ela for falar com você, com certeza, vai se derreter pra ela!
- Ai, odeio quando isso acontece! Mas o que isso tem haver com Vargas?
- Vargas dava o que o povo queria, eram todos "apaixonados" por ele! Mas viviam presos ao seu autoritarismo. Ele sabia como fazer a propaganda certa e poderia fazer o que quisesse no governo que todo mundo apoiava... não foi à toa que ficou 18 anos no poder!
- Tá, mas não entendo hoje. Todo mundo xinga o presidente, o cara ganha mal, tem encheção de saco e ainda tem gente querendo o cargo!?
- Olha o poder aí, F., Olha o poder aí! Ser presidente não é sinônimo de ter um bom salário, o poder é muito melhor que o dinheiro, mas estão interligados. Poder é comandar um bando de imbecis que não têm a mínima competência de viverem eticamente com as próprias pernas e isso é prazeroso. Isso mexe com as vaidades meu caro! Leia Hobbes, você um dia vai entender!

Ana
P.S.: Fragmentos de uma aula de duas horas... Depois ele entendeu (espero) sobre Vargas!




Vestido de velório

Ela abriu a porta de súbito, colocando nas mãos todo o ódio que sentia naquele momento.
Olhou de um lado, olhou de outro com olhos arregalados e apenas viu a chaleira de barulho infernal sobre o fogão. Parecia que não tinha ninguém em casa. Desligou a chaleira, chamou por alguém e ninguém respondeu. Os olhos estavam borrados de lápis preto, afinal havia chorado muito por ter perdido. Perdeu, perdeu tudo. Perdeu Pablo, perdeu seu amor, perdeu o seu chão, perdeu a sua dignidade.
Com o joelhos dobrados bem perto do corpo sentado ao chão da cozinha percebeu que não podia mais fazer nada. Ficou melancólica por dois minutos olhando para imagem que refletia no vidro do forno: desfigurada, molhada, desencantada. Levantou-se, arrastou-se até o quarto, colocou seu melhor vestido de velório, chapéu, óculos escuros, seu punhal herdado do avô e foi caçar.

Ana

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Os sonhos não envelhecem

                            




Ontem eu lembrei da minha mineiridade. Coisa que eu tenho orgulho de ter. Conversando com uma pessoinha que tem sido muito importante, lembrei dessa minha parte da minha vida. Tinha até esquecido como é bom se ter uma raíz. Falando de música e afins, ela me manda uma música do Milton Nascimento.  Com isso me veio à cabeça o chamado Clube da Esquina, fundado desprenteciosamente por Milton e os Borges num bairro tradicional de BH, o Santa Tereza. Fizeram música de qualidade, juntaram os músicos Flávio Venturini, Beto Guedes, Tavinho Moura, Toninho Horta, Wagner tiso, Fernando Brant entre outros. Na nossa conversa lembrei de uma Belo Horizonte que respirava música, respirava a literatura dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse: Fernando Sabino, Helio Pellegrino, Otto Lara Rezende e Paulo Mendes Campos, a Belo Horizonte da Hilda Furacão, a Belo Horizonte que recebeu seus mineiros mais ilustres: Drummond de Andrade, Guimarães Rosa,  Juscelino Kubitscheck, Tancredo Neves... Lembrei mais, lembrei da Minas Gerais e sua História, uma história que no interior parou no rico século XVIII, de cidades inteiras com as mesmas características de Igrejas e casas coloniais, de mitos de liberdade... Lembrei dos traçados planejados da capital moderna, mas que tem mais história viva, intacta, preservada. Ouvi música de mineiro, (re)lembrei o que é ser mineiro, (re)lembrei quem eu sou, lembrei de mim.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ler devia ser proibido


A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.



Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.



Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.



Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?



Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.



Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.



Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.



Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.



O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?



É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.



Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.



Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.



Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.



Ler pode tornar o homem perigosamente humano.







Guiomar de Grammon, In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro - Argus, 1999. pgs.71-73.

cartas




Costumam dizer que eu sou antiga, mas tudo é antigo levando-se em conta que o tempo sempre segue em frente. Dizem que sou antiga porque eu costumo escrever cartas. Ah, se eu fosse uma Australopthecus seria moderna!
Já parou pra pensar se extinguissem os serviços de postagem no mundo? Como eu poderia me emocionar ao receber um presente pelos correios? Como eu poderia mandar pra alguém minhas palavras escritas? Se isso acontecer, que inventem uma coisa parecida.
Essa semana resolvi arrumar o meu quarto. Achei uma caixa com minhas cartas. Quanta coisa boa se abriu junto com elas! A carta mais antiga é de 1982! É.. muitos de meus amigos nem tinham nascido ainda e eu já lia!  Uma pequena oração à Santa Rita que me foi enviada pela minha avó paterna e olha que a gente morava perto, na mesma cidade, mas minha vó hoje não escreve mais e eu guardei o que ela conseguia fazer tão bem.
Como os meus amigos me escreviam!  Em 1993 morei no sul do país e não tinha essa de mandar e-mail e telefonar era caro... tenho muitas, muitas cartas de amigos e parentes, a recordista é a Paty... como a gente tinha assunto! Voltou toda a minha adolescência lendo...
Muitas cartas do meu primeiro amor, muitas mesmo, acho que era uma por semana, mesmo a gente se vendo todos os dias, escrever era parte do romance. Dá pra perceber que quando a gente brigava, quando estávamos felizes... e quando estávamos terminando, as cartas já eram mais raras, palavras mais duras... Mesmo com os muitos erros ortográficos, mas isso não me importava.

Abri uma carta especial. De 1997. Ainda mais no dia de hoje. É uma carta do meu pai. Uma carta não, um cartão de aniversário. Dizia que eu era a pessoa mais importante do mundo, que se ele existe, é por mim e pelas minhas irmãs. Bom ler isso, já que não posso mais ouvir isso.
Ah... achei uma outra importante, de além mar - 2004... Me trouxe uma poesia. Uma pequena frase bordada num linho branco que diz assim:

O meu coração é só seu e o seu coração é só meu. Para sempre.

Que tempo... tempo que conheci o mundo. Tempo que o mundo me conheceu.
Gosto tanto de cartas, que escrevi postais pra mim mesma. Postais que recebi quando estava fora e que li quando cheguei, só pra lembrar os lugares maravilhosos por onde andei. São 38 postais... como já viajei! Se não fossem eles, teria me esquecido.

Hoje vi o quão feliz fica uma pessoa a receber uma carta. Como palavras escritas dizem muito mais que frases...

Misérias de um sábado a noite

Bar lotado. Sombra verde e batom vermelho-sangue destacam-se num rosto moreno. Os peitos quase saltavam para fora da pequena blusa verde dois números menor , o chamarisco para o sexo oposto. Toda aquela produção mereceria um ou mais troféus.
Objetivo: curtir a noite. Seria, se não pudéssemos observar de longe uma carência imperativa. Blusa verde e duas amigas sentadas à mesa, a primeira num pequeno vestido azul de feira de bairro belorizontino . A segunda, uma loira de postura arqueada que tentava esconder a baixa autoestima, os segredos e as intempéries da vida.
A moça de verde não se contentou em ver uma roda de homens na mesa à frente. Foi à caça. Levantou uma vez e passou por eles, sem sucesso. Voltou, empinou a bunda e nada! Eles, mais preocupados cosigo mesmos e com o campeonato de futebol que passava na TV não a viram passar. Mulher provocativa. Senta, levanta, passa por eles. Nada! Resolve levantar mais um vez, mas dessa não podia errar o tiro. Foi até a mesa dos homens e, de súbito, um se levanta e vai à mesa das mulheres. Os amigos o deixam constrangido, a de vestido azul se atrapalha com a visita inesperada e deixa o telefone cair no chão. Logo se faz uma corrente quase divina de ambos os lados de amigos para que os dois se beijem. A blusa verde atinge um dos objetivos.
Dois outros, estilo cowboy entram no bar, altos, fortes logo fuzilados pelos olhos contornados de sombra verde. Ainda tinha que arrumar para sua amiga e a si própria. Levanta, puxa a calça jeans, empina a bunda num exercício lordósico de dar inveja e volta à mesa dos homens. A fonte esgotou e só um teria sucumbido à sua atitude desesperada de fazer sua amiga feliz por aquela noite.
Blusa verde vira a sua cadeira e lembra-se que eram dois cowboys. Estava salva. Ela e sua amiga iriam colocar na estante, mais um troféu da noite de sábado.
 
Ana
 
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