domingo, 12 de novembro de 2017

Precisamos falar de abusos

Hoje estou com 40 anos. Pensando e repensando a minha vida, retirei as gavetas do armário e vi o que as estava emperrando. Tinha muita coisa atrapalhando as gavetas fecharem, não era apenas esvaziá-las. 
Voltei nos anos 80, juntando os relatos e o que eu lembrava, as coisas foram se revelando. Eu, uma criança que me descreveram muito bonita e ao mesmo tempo muito chorona, que queria a mãe e o pai o tempo todo, que só queria colo. Não, não era pirraça, era medo. Era pavor das mãos das pessoas, que passeavam pelos meus cabelos, pelas minhas bochechas. Odiava quando as pessoas me pegavam e quando eu ficava de cara feia a minha mãe dizia: "Deixe de ser mal educada, menina!"... E com medo dela me repreender mais uma vez, eu suportava. Passava de mão em mão, tios, amigos dos meus pais, avós... Todos queriam ver aquela "aberração" Loira como um anjo de cabelos encaracolados e grandes olhos azuis. 
Na adolescência, esconder meu corpo era fundamental. Não queria que ninguém visse os meus peitos crescendo. Usava roupas largas, sapatos grandes e cortei o meu cabelo bem curto, que nem de menino. Minha mãe quis me matar. Engordei, assim não seria mais uma garota bonita.
Eu era uma das melhores alunas da escola, mas minha mãe nunca se preocupou com isso. Sempre dormiu até tarde. Não me ajudava nos deveres. Não ia nas feirinhas ou apresentações. Sempre queria provar que eu não era bonita, mas que eu era inteligente. Nunca consegui. Sempre fui só a bonequinha, o bibelô da família. Acho que devia despertar certo fascínio sobre as pessoas. Os homens me olhavam com olhos maliciosos, a mulheres, com olhos maldosos e raivosos. 
Me lembro que ao dormir na casa de uma prima, a mãe dela trancava a porta do meu quarto durante a madrugada. Penso que devia ter medo do marido fazer algo. 
Cresci. Meu primeiro namoro foi um desastre. Eu tinha muito ciúmes e precisava dele o tempo todo. O manipulava com sexo pra que ele quisesse ficar comigo o tempo todo. Ainda uso dos mesmo artifícios. 
Atualmente me encontro em um relacionamento psicologicamente abusivo há 7 anos. Não consigo me ver com outra pessoa por medo de estar com outros homens. Estou envelhecendo. Me escondo atrás do do meu peso, da minha dedicação aos estudos, do meu trabalho. Escondo até mesmo atrás dele, que me manipula, que me machuca, que me trai e que muitas vezes me despreza. Assim eu sou. Assim fui me construindo.

domingo, 5 de novembro de 2017

Limpando as gavetas (parte 2)

Faz tempo que não escrevo por aqui. Eu esqueci como era bom eu escrever. Era uma espécie de limpar as gavetas da alma. Mas até isso ele conseguiu anular em mim.
Estive, todo esse tempo fechada em um relacionamento abusivo. Um relacionamento que não teve sequer um ato de violência física, mas muita violência psicológica e relendo os textos desse blog. me dei conta que isso se arrasta há muito tempo. Deixei de ser eu mesma, não me reconheço mais. 
Esse fim de semana recebi mensagens de um ex dele, que com muita raiva por ter sido enganada, me contou as tantas coisas ruins que ele fez. Ela agora está com a feridas abertas, só pensa em se vingar e pede ajuda. 
Estou indo por outro caminho e pessoas têm me ajudado, tive essa sorte. É tudo muito recente e não é fácil sair de um relacionamento de co-dependência de 7 anos de duração! Mas eu quero sair! Quero limpar as gavetas, tirar tudo pra fora e escolher só as melhores coisas pra ficar. 
A vida é uma loucura.